ser supremo é o índio Seta Branca, que lidera a corrente indiana do espaço, um regimento de espíritos de luz. A Terra foi colonizada há 32 mil anos por seres imortais do planeta Capela, que se miscigenaram com os terráqueos e criaram várias civilizações ao longo da história. Esse não é o enredo de Avatar 2. São as revelações feitas por Neiva Chávez Zelaya, uma viúva caminhoneira que se dizia reencarnação de Cleópatra e Nefertiti. A médium fundou nos primeiros anos do Distrito Federal o Vale do Amanhecer, doutrina que mistura espiritualismo, cristianismo, crenças africanas e referências aos maias, espartanos e ciganos, além dos moais da ilha de Páscoa. “Se você não acredita, por que está aqui?” A pergunta dirigida à reportagem do UOL Notícias não é intimidadora. Transmite a mais pura surpresa em meio aos altares suntuosos, à meia-luz reinante no templo e ao forte cheiro de incenso feito da resina da almesca. “Sou jornalista, vou escrever uma matéria”, tento me explicar para Joaquim Antonio, mestre da doutrina brasiliense. “Ah, você é um ateu à toa”, sentencia o médium. O internauta que não acredita neste texto, por exemplo, pode clicar no botão abaixo chamado “comunicar erro”. Não há dispositivo semelhante quando se fala de fé – ainda mais nessa igreja que é a face mais conhecida do misticismo que cerca Brasília. Sendo assim, o jeito é entrar na lógica deles. O sobrenatural e o simbólico estão na cidade desde antes de sua fundação. No marketing para transferir a capital para o Planalto Central foi muito utilizada a história de um sonho do religioso italiano Dom Bosco no século 19 que teria antevisto entre os paralelos 15 e 20 surgir a terra prometida ao lado de um lago que verteria “leite e mel”. Só faltou relatar que em outro trecho o santo falava que a visão era na Bolívia. A capital surgia do cruzamento de dois eixos, uma cruz urbanística, mas também cristã. Em Brasília, a utopia modernista desenvolvimentista ganhou o reforço teológico. Os monumentos no cerrado pareciam miragens. O traço de Oscar Niemeyer carregava em futurismos – não por nada, o russo Yuri Gagarin, o primeiro homem a ficar em órbita, disse se sentir em outro planeta ao aportar no DF.
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