No capítulo 12 de Gênesis temos registrado um dos acontecimentos mais importantes – senão o mais da históriapolítico-social de Israel: o chamado de Abraão. Tida como ponto inicial da formação do povo, primeiro hebreu, depois israelita e, finalmente, judeu, a saída de Abraão da Mesopotâmia inicia a fase dos patriarcas e expõe o projeto de Deus de uma forma mais clara e abrangente. Mas é muito mais do que isso. Se observarmos as entrelinhas da narrativa veremos os mesmos elementos que até hoje permeiam a fé comum que os homens têm no Deus que chamou Abraão, o Deus de Israel. Vejamos as palavras do Senhor.
“Sai da tua terra, da tua parentela, e da casa do teu pai”. Aqui, cada um desses elementos tem um significado especial. “Tua terra”. Quer dizer “teu território”, “tuas posses”. Os vales, os rios, os montes, o cheiro das plantas, todo o ambiente que ele aprendeu a chamar de “minha terra”. “Tua parentela”. Não somente os parentes em geral, mas todos os que faziam parte de sua história, amigos, vizinhos, parentes distantes, primos, sobrinhos, etc. “Casa do teu pai”. A segurança. O suporte. O alicerce pessoal. Jeová pede para que Abraão, já um homem adulto, casado, ainda que sem filhos, simplesmente dê às costas a tudo isso para obedecer a seu chamado. E aqui começa a primeira lição da narrativa.
Deus está acima de qualquer realidade que conhecemos. E é melhor que todas elas.
E nisso estamos incluindo todo o mundo formado à nossa volta desde o momento em que somos gerados (terra, parentela, casa do pai). São todos esses elementos que constroem a nossa identidade, que nos fazem ser o que e quem realmente somos. Deixar essas coisas para trás significa “negar-se a si mesmo”, renunciar a própria vida, daí podermos entender Mateus 16:24-25, quando Jesus sugere a nós, em outras palavras, que façamos o que Deus mandou que Abraão fizesse: “Então disse Jesus aos seus discípulos: Se alguém quiser vir após mim, renuncie-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me. Pois aquele que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á, mas quem perder a sua vida por amor de mim, achá-la-á”.
Muitos irão para o inferno porque não quiseram ou não conseguiram abrir mão de suas vidas por amor a Deus. Porque consideraram que abrir mão de suas tradições, religião (no caso de Abraão, religião idólatra e pagã, típica daquela região), de seus costumes, de sua zona de conforto para seguir a Deus que não se vê, para um lugar que só conheceremos quando lá chegarmos, por uma promessa que não apresenta nenhum vestígio material ou concreto de que será realizada, é uma prova grande demais. Um sacrifício que não vale à pena.
Que exemplo melhor podemos encontrar no Evangelho que o jovem rico (Lucas 18)? Assim como Abraão, teve o privilégio de ouvir a voz de Deus lhe chamando. Esteve na presença do Mestre. Mas não teve forças para abrir mão de seu mundo, de, como disse Jesus em Mateus 16:25, ‘perder a sua vida’. Ao perder sua vida terrena Abraão, com mais de 70 anos de idade, encontrou a vida eterna.
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