Quando Eddie Michaelson* e eu terminamos nossa sociedade há sete anos, nem suspeitei de que ele entraria na minha vida novamente de forma ameaçadora, ou que eu desejaria causar-lhe dano físico. (* O verdadeiro nome foi alterado.)Tínhamos uma firma de impermeabilização e pintura, que na época, como agora, prestava serviços em Baltimore. Eddie era encarregado do setor de pintura na sociedade, e agora queria abrir o seu próprio negócio.De acordo com o livro de contas, ele me devia 200 dólares. A dissolução da sociedade foi amistosa, e para ajudá-lo no seu novo negócio arranjei um serviço de pintura para ele e consegui o primeiro contrato de trabalho para a sua nova firma.Duas semanas depois, em retribuição por minha ajuda, Eddie fez algo que foi como me dar um soco no estômago.Minha empresa tinha um contrato para limpar a ferrugem de uma porta de oficina e pintá-la com tinta especial. Eu encarregara Paul Bevan da limpeza da grande porta de ferro, trabalho que ele faria com uma lixadeira elétrica circular. Um dia quando fui verificar o trabalho, encontrei Paul parado, sem fazer nada. "O Seu Michaelson veio e levou embora a ferramenta", disse-me Paul.Olhei para ele atônito. "Ele o quê?..."Paul fez que sim com a cabeça.— Ele tirou a lixadeira das minhas mãos e foi embora. Disse que tinha direito a ela.Era tão absurdo que demorei um momento para recuperar-me do choque. Depois imediatamente, a reação à tal ingratidão começou a ferver dentro de mim numa ira reprimida como eu não sentia há muitos anos.Minha cabeça latejava de raiva e ódio; eu tremia, e por um momento nem consegui falar nada.Paul olhou para mim preocupado, pois notara a batalha.— O sr. vai pegar de volta, não vai? O sr. não vai deixar ele se safar com essa, né?Dentro de mim havia luzes vermelhas de advertência. A força da minha raiva era uma dor e um sentimento de desgraça. Uma vozinha delicada na minha cabeça disse-me: "Cuidado! Não diga nada, não tome uma atitude agora. Fique calmo".Finalmente eu disse: "Fique aqui, Paul. Eu já volto.Entrei no prédio e fiquei sentado numa escada de concreto na penumbra do porão e tentei avaliar a situação.Michaelson era uma criação de Deus, e no fundo era uma boa pessoa. Esse pensamento ficou grudado na minha cabeça como um comprimido entalado na garganta, mas eu não parava de pensar, para o meu próprio bem, para meu próprio consolo e para liberar toda a tensão que sentia. Ele era jovem, pensei, e estava comportando-se como uma criança. Ele deve ter interpretado mal alguma coisa para achar que tinha o direito de fazer isso, caso contrário não teria levado embora a lixadeira.Perdoe as nossas ofensas assim como nós perdoamos a quem nos têm ofendido. … abaixei a cabeça ali sentado no degrau de cimento e disse: "Pai, eu o perdôo. Perdoe-o também e o abençoe".Levantei-me e estava calmo. Antes de abrir a boca, Paul perguntou ansioso: "O sr. vai atrás dele?"Respondi que não, que não ia fazer nada com ele, que tínhamos que perdoá-lo.Paul ficou estupefato.— Quer dizer que o sr. não vai...?"— É, isso mesmo. Vamos agir do jeito que Deus agiria. Este incidente não vai nos prejudicar. Afinal de contas, podemos alugar uma lixadeira.Mais tarde nesse mesmo dia, e nos dias que se seguiram, eu não conseguia parar de pensar na ingratidão de Michaelson. Quando me pegava pensando assim, ficava dizendo que Eddie era meu irmão por parte de Deus, e que Eu ia orar para o Senhor abençoá-lo.Mas as semanas foram passando e percebi que sempre que eu pensava em Eddie ou ouvia o seu nome, ainda me vinha um sentimento de raiva reprimida que muito me incomodava. Esse ressentimento estava fazendo mal a mim. Por que não me desfiz disso? Afinal de contas, eu passava por um processo de meditação espiritual cada vez que pensava em Eddie, então por que o ressentimento não se fora? Por que o meu perdão não fora completo?Como torná-lo completo?Lembrei-me de algo que lera: "Para perdoar totalmente você tem ou que dizer algo bom para a pessoa em questão, ou fazer algo de bom para ela. Em suma, o perdão, assim como todos os princípios divinos tem que ser manifestado em ação".Animei-me. Era realmente o meu problema e a maneira de curá-lo. A partir daí fiquei de olhos abertos à procura de uma oportunidade para servir Eddie.Um tempinho depois surgiu a oportunidade de mandar um serviço para Eddie, e mandei. Durante a transação estive com ele e conversamos um pouco.Não disse nada sobre o incidente com a lixadeira nem com o fato dele me dever 200 dólares.— Como estão as coisas? - perguntei-lhe.— Ah, tive um grande azar - ele exclamou, e depois começou a contar sobre uns problemas e uma situação que o forçou a desembolsar quase os 200 dólares que nunca tivera intenção de me pagar, mais quase o valor da lixadeira que pegara de mim.Meneei a cabeça, não demonstrando alegria com a desgraça dele, mas surpreso e impressionado com a precisão da lei espiritual: Tudo o que o homem semear, isso também ceifará (Gálatas 6:7).Michaelson ganhou dinheiro com o serviço que passei para ele, e eu também lucrei. Ao demonstrar de forma prática o meu perdão, eu agora me libertara do ressentimento e tinha novamente paz interior.Poucos meses depois, Paul, o funcionário, veio falar comigo. Estava hesitando um pouco e meio sem jeito, e falou olhando para o chão: "Quero lhe agradecer".— O que foi, Paul? — perguntei-lhe sem saber o que ele queria dizer.— É que já ouvi muito sermão na minha vida, mas nada nunca fez muito efeito. O senhor se lembra do dia que Michaelson levou a lixadeira? Eu esperava que o senhor fosse ficar super bravo ... mas a sua tranqüilidade... bem, me afetou. Não parava de pensar nisso. Voltei para a minha igreja e agora eu oro, e tudo melhorou bastante. Achei que o senhor gostaria de saber disto.Durante a conversa eu me senti humilde diante da sabedoria divina, e feliz e grato por Deus ter achado por bem me usar para chegar ao coração deste homem.
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