Fixe diante de seus olhos os padrões mais elevados de mansidão e perdão para que você possa sentir a força do exemplo deles. Este é o modo de se cortar os argumentos comuns da carne por vingança. Pense que outros suportariam tais afrontas, e certamente coisas muito piores, tanto a história da Igreja, como nos exemplos que temos na Bíblia na pessoa do próprio Cristo, e também em José no Egito e tantos outros. Assim se você se deixar vencer por seus sentimentos será considerado um insensato e um covarde por não seguir o exemplo mais sábio e santo daqueles que venceram seus sentimentos em Deus.
Considere o caráter da pessoa que o prejudicou. Ele é um homem bom ou mau? Se ele for um homem bom, haverá uma boa consciência nele que cedo ou tarde o trará a um senso do mal que ele lhe fez. Se ele for um homem bom Cristo lhe perdoou maiores danos do que ele fez a você; e por que você não deveria perdoar a ele? Cristo não o censurará por quaisquer das injustiças dele, mas francamente as perdoará todas; e você o tomará pela garganta por algum erro insignificante que ele cometeu?
Mas se for um homem mau que lhe prejudicou ou lhe insultou, verdadeiramente você tem mais razão para exercitar piedade que vingança em relação a ele. Ele está dentro de um estado miserável; um escravo do pecado e inimigo da justiça. Se ele continuar impenitente, haverá um dia que está chegando quando ele será castigado na justa medida das ofensas que ele praticou. Você não precisa se vingar porque Deus executará vingança nele.
Se você viesse a superar seu inimigo, executando sua vingança sobre ele, isto seria um motivo para se sentir vencido e perturbado posteriormente em sua consciência, e você se sentiria semelhante não ao Filho de Deus, mas a Satanás, que não veio trazer vida com abundância aos homens como Cristo, senão morte, furto e destruição, do possível bem que eles poderiam ter em Deus por se reconciliarem com ele. Não seja pois um aliado do diabo e um opositor da causa de Cristo que veio salvar e não condenar o mundo. E o modo que Ele faz isto é oferecendo perdão a todos os pecadores, sem uma única exceção, e afirmando que toda transgressão poderá ser-lhes perdoada, exceto a blasfêmia contra o Espírito Santo. Considere por quem todas as suas dificuldades são ordenadas ou permitidas. Isto será de grande uso para guardar seu coração da vingança.
Nada foge do controle de Deus, e todas as nossas tribulações são reguladas por Ele, para um fim proveitoso. Se Deus tem permitido que soframos algum dano é para que o superemos sujeitando-nos a Ele e confiando nossas almas ao cuidado do fiel Criador para que sejamos consolados e restaurados. Quantas injustiças e perseguições sofreram os cristãos da Igreja primitiva, e como Deus os consolou através do apóstolo Pedro? Acaso ordenando-lhes que se vingassem de seus perseguidores? Os textos de I Pe 2.13-25; 3.8-18; 4.12-19; 5.6-10, dentre outros nos dão a resposta a isto.
Finalmente, quanto a guardar o coração da vingança, lembre que com o juízo que julgamos somos julgados e com a medida com que medimos somos medidos, de maneira que somos lançados a prisões espirituais pelo próprio Deus e sujeitados a opressões do maligno até que sincera e do fundo do coração nos disponhamos a perdoar aqueles que nos ofenderam. Jesus deixou claramente ensinado que somos perdoados por Deus quando também perdoamos os nossos ofensores. É portanto um assunto de caráter vital espiritual este do dever de perdoarmos, e portanto guardemos devida e continuamente o nosso coração de pensamentos e desejos de vingança, que no final prejudicarão tão somente a nós mesmos.
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