Se tudo o que se refere ao Evangelho de Cristo é de tal ordem, que sem uma revelação direta da parte de Deus não poderia ser conhecido, então vemos que não há nada que seja relativo à criação natural que seja pertencente ao Evangelho. O Evangelho é uma realidade espiritual e sobrenatural, porque se refere à formação e crescimento de uma nova criatura que é gerada em cada crente pelo poder do Espírito Santo. Por isso é afirmado em I Cor 2.9 que “Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que o amam.”, ou seja, esta revelação da vida espiritual que recebemos pelo Evangelho, não é perceptível aos sentidos naturais, como por exemplo os da visão e da audição.
Ainda que a fé seja gerada por se ouvir a pregação da Palavra do Evangelho, todavia, ela não consiste no simples ato de se ouvir ou ler a Palavra de Deus, uma vez que é um dom espiritual e sobrenatural que recebemos do Alto. Assim, não é pela simples audição do evangelho, que este será conhecido e vivido por nós, senão por um ato de revelação e operação do Espírito Santo em nosso espírito. Se o Evangelho propriamente dito fosse o entendimento e aplicação da mera letra, até mesmo os pagãos poderiam ser excelentes legisladores da religião, o que, a propósito não é incomum de ocorrer. Mas, como se trata de um mistério que deve ser necessariamente revelado pelo Espírito Santo, demanda-se que haja um prévio novo nascimento (regeneração) e instrução do Espírito Santo, para que possamos compreender e viver este mistério da pessoa de Cristo e da nossa relação com Ele, que nos são trazidos pelo Evangelho.
Essa nova vida que temos em Cristo deve ser experimentada para ser compreendida. Por isso participamos da Santa Ceia, que é um sinal desta verdade, porque o pão e o vinho que representam o corpo e o sangue de Cristo, apontam para a sua própria vida espiritual, pela qual somos alimentados e fortificados. Nosso Senhor não disse ao instituir a Ceia que o pão e o vinho são a nossa justificação e regeneração quando deles participamos; mas que são o seu corpo e sangue, ou seja, a sua vida da qual participam apenas aqueles que já foram uma vez justificados e regenerados por meio da fé nele. Não é possível discernir a vida do Senhor sendo representada nos elementos da Ceia, a não ser por termos um conhecimento prévio dele, e por estarmos em comunhão com ele, porque é somente desta forma que somos habilitados a receber a revelação do Espírito Santo quanto ao que temos em Cristo, e o modo pelo qual importa vivermos nele e para ele.
“…mas, como está escrito: Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que o amam. Mas Deus no-lo revelou pelo Espírito; porque o Espírito a todas as coisas perscruta, até mesmo as profundezas de Deus. Porque qual dos homens sabe as coisas do homem, senão o seu próprio espírito, que nele está? Assim, também as coisas de Deus, ninguém as conhece, senão o Espírito de Deus. Ora, nós não temos recebido o espírito do mundo, e sim o Espírito que vem de Deus, para que conheçamos o que por Deus nos foi dado gratuitamente. Disto também falamos, não em palavras ensinadas pela sabedoria humana, mas ensinadas pelo Espírito, conferindo coisas espirituais com espirituais. Ora, o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente. Porém o homem espiritual julga todas as coisas, mas ele mesmo não é julgado por ninguém. Pois quem conheceu a mente do Senhor, que o possa instruir? Nós, porém, temos a mente de Cristo.” – 1 Coríntios 2:9-16.
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