Eu já sabia que Deus não é o ser impassível, indiferente, imutável, descrito pelos teólogos. Eu já sabia da compaixão de Deus, que Ele tem prazer em algumas coisas e desprazer em outras. Mas, estranhamente, seu sofrimento eu nunca vira antes.
Deus não é somente o Deus dos sofredores, mas o Deus que sofre. A dor e a ruína da humanidade entraram em seu coração. Pelo prisma de minhas lágrimas vi um Deus sofredor.
Diz se que ninguém pode contemplar a face de Deus e viver. Sempre penei que isso significasse que ninguém pode ver seu esplendor e viver. Um amigo me disse que talvez ninguém possa ver a tristeza de Deus e viver. Talvez sua tristeza seja seu esplendor.
E o grande mistério: para nos redimir de nossa fadiga e desamor, o Deus que sofre conosco não deu nenhum golpe de poder. Ele enviou seu amado filho para sofrer como nós, a fim de nos redimir do mal e do sofrimento.
Em vez de explicar nosso sofrimento, Deus participa dele.
Mas nunca o vi. Embora eu confessasse que o homem de dores era o próprio Deus, nunca vi o Deus de dores. Embora eu confessasse que o homem sangrando na cruz era o Deus redentor, nunca vi o próprio Deus na cruz, nem o sangue da espada, nem os espinhos, nem cravos gotejando a cura do mundo.
O que significa, para a vida, o sofrimento de Deus? Estou começando a aprender. Quando pensamos no Deus Criador, naturalmente enxergamos os ricos e poderosos da terra como a sua mais próxima imagem. Mas quando nos deparamos com a visão de Deus, o Redentor, purificando do pecado e livrando do sofrimento através de seu próprio sacrifício, então talvez devamos buscar, em outro lugar da terra, um ícone que lhe seja próximo. Onde? Talvez na face daquela mulher com uma tigela de sopa na mão e uma criança inchada ao lado. E talvez seja por isso que Deus disse que quando mostramos amor a tais pessoas, a Ele o fazemos.
Nicolas Wolterstorff
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