As pessoas quando chegam nas comunidades evangélicas, vêm com a expectativa de um lugar perfeito e harmônico para o convívio em comunhão. Um lugar onde será acolhido, amado incondicionalmente, aceito sem reservas, onde todas as pessoas são amáveis e respeitadoras. E de fato é assim por um bom tempo, pelo menos até que surja o primeiro conflito ou a primeira divergência de opinião. Aí então surge a dor. O problema com as altas expectativas é que elas são irreais e sempre nos deixam frustrados. Quanto maior for sua expectativa, maiores serão suas chances de frustração. É válido lembrar que nós não podemos cobrar perfeição de pessoas imperfeitas, até porque nós mesmos somos imperfeitos também.
Quando a realidade da imperfeição é revelada a nós, para evitar a dor e a fadiga, recorremos a algumas formas de escape. Uma delas é o isolamento. Nos isolamos em nosso mundo particular, mesmo dentro da igreja, e evitamos a todo custo o envolvimento profundo novamente com a comunidade como forma de evitar uma decepção futura. Outra forma é a mudança de comunidade, “se essa igreja não é perfeita, haverá outra que seja”, e depois de passar por uma saga de peregrinações em igrejas imperfeitas, surge a última opção… Se não há comunidade perfeita a solução é ficar em casa mesmo e servir a Deus sem qualquer envolvimento com denominações (os famosos e crescentes ‘sem igrejas’), isso sem falar nos que associam a atitude de pessoas imperfeitas ao caráter de um Deus perfeito e preferem desistir geral de qualquer coisa que lembre uma comunidade cristã.
O viver em comunidade, em comunhão com pessoas imperfeitas como nós, aperfeiçoa nossa capacidade de amar e perdoar, justamente porque convivemos com pessoas passiveis de erros. É como se um tivesse a capacidade de ajustar as arestas do outro pelo simples fato de ser imperfeito e carente de ajuda e perdão. Mas para chegar a esse entendimento é necessário abandonar uma boa dose de orgulho e adotar uma dose extra de empatia.
Na minha deficiência haverá alguém que vai suprir e eu terei a oportunidade de suprir a deficiência de alguém. Essa é a delícia da comunhão: crescer juntos. E esse é talvez o caminho da perfeição, não a perfeição da ausência total de falhas, mas a perfeição de estar unidos e crescendo mutuamente, como num verdadeiro corpo, melhorando a cada dia através dessa convivência, exercendo o amor mútuo.
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