E aconteceu que, indo ele a Jerusalém, passou pelo meio de Samaria e da Galiléia;
E, entrando numa certa aldeia, saíram-lhe ao encontro dez homens leprosos, os quais pararam de longe; E levantaram a voz, dizendo: Jesus, Mestre, tem misericórdia de nós. E ele, vendo-os, disse-lhes: Ide, e mostrai-vos aos sacerdotes. E aconteceu que, indo eles, ficaram limpos. E um deles, vendo que estava são, voltou glorificando a Deus em alta voz; E caiu aos seus pés, com o rosto em terra, dando-lhe graças; e este era samaritano. E, respondendo Jesus, disse: Não foram dez os limpos? E onde estão os nove? Não houve quem voltasse para dar glória a Deus senão este estrangeiro?
E disse-lhe: Levanta-te, e vai; a tua fé te salvou.
Acredito que este milagre seja um dos mais conhecidos do Novo Testamento. Jesus vinha de sua região, a Galileia e resolve passar em um vilarejo, cujo nome não é citado, na província de Samaria. Não era nada recomendável a judeus, ainda que em grupos, passassem por esta região, tendo-se em vista a grande inimizade secular que existia entre eles. Toda esta animosidade teve início quando, aproximadamente em 721-705 aC. Samaria fora invadida pelos Assírios e uma grande parcela do povo judeu ali residente na época foi levado cativo para a Babilônia (atual Irã e Iraque). Cerca de 27.000 hebreus foram deportados: (2RS 17:6) “…No ano nono de Oséias, o rei da Assíria tomou a Samaria, e levou Israel cativo para a Assíria; e fê-los habitar em Hala e em Habor junto ao rio de Gozã, e nas cidades dos medos…” . Foram deixados para trás os de origem pobre e sem influência. Logo em seguida o rei da Assíria envia povos babilônicos de cinco províncias para que ocupassem as terra de Samaria. O que houve a seguir foi uma miscigenação étnica entre hebreus e babilônicos e um sincretismo (mistura) religioso de Lei com idolatria de Babel. Como registrado em II Reis 17.29-33:
“…Porém cada nação fez os seus deuses, e os puseram nas casas dos altos que os samaritanos fizeram, cada nação nas cidades, em que habitava. E os de babilônia fizeram Sucote-Benote; e os de Cuta fizeram Nergal; e os de Hamate fizera. Asima. E os aveus fizeram Nibaz e Tartaque; e os sefarvitas queimavam seus filhos no fogo a Adrameleque, e a Anameleque, deuses de Sefarvaim. Também temiam ao Senhor; e dos mais baixos do povo fizeram sacerdotes dos lugares altos, os quais lhes faziam o ministério nas casas dos lugares altos. Assim temiam ao Senhor, mas também serviam a seus deuses, segundo o costume das nações dentre as quais tinham sido transportados…”
Os descendentes, então, deste habitantes de Samaria, não eram mais judeus puros, e isto foi a causa da inimizade entre eles até os dias do ministério de Jesus. Os samaritanos eram, então considerados “malditos” pelos hebreus. O Mestre poderia ter escolhido um outro caminho, pelo litoral, por exemplo, ou mesmo passando na região transjordânica, a leste do rio Jordão, para evitar Samaria, entretanto Ele precisava passar por lá. Às vezes nós precisamos passar por “Samaria”.
Não sabemos quem informou um grupo de leprosos que, condenados pela religião e afastados de todo convívio social, e vivendo do lado de fora do vilarejo, que Jesus passaria por ali. A lepra era uma doença terrível, pois surgia com pequenas manchas esbranquiçadas sobre a pele tornando-a insensível, e, sem que tivessem como contê-la, se alastrava por todo o corpo. Amolecia as unhas, enrugava a gengiva causando a queda de todos os dentes. Depois as partes periféricas do corpo iam se inflamando e dissolvendo a carne. Em seguida as orelhas caiam, pelos, dedos, mãos, pés e por fim a morte. (Hoje esta doença pode ser praticamente curada.) Deveriam, pela lei se afastar no mínimo cem metros das pessoas sãs e ao vê-las deveriam gritar “Imundo! Imundo!”. Jesus os manda ir se apresentarem ao sacerdote. O sacerdote, pela lei, era o homem que tinha a responsabilidade de diagnosticar se uma pessoa estava leprosa ou não; e também se estava curada da enfermidade ou não, segundo está registrado nos livros de Levíticos capítulos 13 e 14.
Só que, enquanto cumpriam a ordem do Senhor, a caminho do sacerdote, perceberam que haviam sido curados. Ora, amado irmão que lê estas poucas linhas, não temos a menor ideia de qual era o grau de gravidade da lepra destes homens, mas eu quero crer que, se algum deles já havia perdido um pé, ou uma mão, ou uma orelha, dentes, língua, a caminho da casa do sacerdote, miraculosamente, eu creio, que pés foram restabelecidos, vigor foi restaurado, olhos voltaram a enxergar, peles ulcerosas, purulentas e mal cheirosas foram curadas, mãos foram refeitas, etc. Entretanto, em meio ao frenesi de alegria e comemoração que deve ter acontecido entre os dez, um resolve voltar para agradecer. Os outros nove continuam sua jornada até aquele que os havia diagnosticado imundos. E o mais interessante é que, o que se sensibilizou a regressar e agradecer a Jesus era samaritano, um “maldito” samaritano, segundo os conceitos judaicos da época. Ele encontra o Cristo, se lança a seus pés, o reverencia como o Messias, o adora. O vejo agarrado aos pés do Senhor, beijando-o e agradecendo-o em lágrimas de amor. Jesus fica maravilhado com a gratidão do homem e faz uma pergunta: “- Não foram dez os limpos? E onde estão os nove?”
Havia um motivo para Jesus os enviar ao sacerdote, pois muito mais importante do que serem curados fisicamente eles também precisavam ser restabelecidos socialmente, e só o sacerdote, um homem separado por Deus poderia lhes restituir isto. Sabe, o Espírito Santo de Deus me faz entender que muitos dos problemas de “Lepra” espiritual na igreja são resolvidos pelo sacerdote. Pessoas que entraram em litigio com Pastores e Líderes que precisam se consertar, precisam entrar pelo caminho do perdão e serem libertos de suas mazelas. Pecados não confessados, adultérios no ministério, fornicação, falcatruas, fofocas, calúnias, murmurações, etc. É a “Lepra” que deteriora o Corpo de Cristo.
Mas o samaritano entendia que, pela lei, de acordo com Levíticos capítulos 13 e 14, eles deveriam passar por um cerimonial de dezesseis dias para, só então, voltarem às suas vidas normais. Ele parou, pensou e decidiu que, muito mais importante do que cumprir todo o cerimonial religiosos que era apenas uma sombra, uma rotina, uma representação que apontava para Jesus, era melhor ir direto Àquele que poderia realiza-lo. Os outros nove voltaram para a religião e se perderam por lá com seus rituais e ordenanças que não salvavam ninguém. Nunca mais soubemos deles. Se esta estatística estiver certa de cada dez crentes que tem um encontro com Jesus somente um volta para agradecer. Os outros nove são aqueles que tiveram uma experiência com o Salvador de “longe”, nunca voltaram para abraça-lo, deitar sua cabeça em Seu peito ou mesmo beijar Seus pés. São crentes que jamais terão um testemunho novo para contar, em tempo algum foram íntimos do Mestre, sempre viverão daquilo que viram de muito “longe”, ou da experiência de outros.
Jesus encerra dizendo: Não houve quem voltasse para dar glória a Deus senão este estrangeiro? É, nesta vida somos surpreendidos quando o Pai usa as “coisas loucas deste mundo para confundir as sábias, bem como as coisas que não são para confundir as que são”. Não sabemos o nome da aldeia onde moravam os ex-leprosos, isto porque o Pai não se lembra de nossos pecados do passado. Não importa quem fomos ou o que fizemos, em Jesus está tudo perdoado. Porém o “maldito” samaritano foi o único dos dez que não somente teve seu corpo curado, como sua alma salva, pois foi aquele ouviu dos lábios do amado Salvador: “Levanta-te, e vai; a tua fé te salvou.”Seja curado em nome de Jesus.
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